Pinturas Negras de Francisco de Goya
Próximo dos 60 anos, Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828) se mudou para uma antiga casa nos arredores de Madri esta casa era conhecido como La Quinta del Sordo(A Casa do Surdo), neste momento Goya vivia seu pesadelo real, infectado por uma misteriosa doença transmitida por seu amigo Sebastián Martínez, Francisco de Goya se viu totalmente surdo com sua autoestima atenuada. Por coincidência esta mesma casa já havia sido moradia de um outro surdo, por isso o nome “Quinta del Sordo”. Amargurado e perseguido como traidor por ter sido pintor da invasão francesa sob o comando do irmão de Napoleão, José Bonaparte, Goya não teve outra opção já que foi perdoado da morte por ser muito bom pintor pelo então fracassado e reacionário monarca espanhol Fernando VII.
Entre os anos de 1820 e 1823 Goya realizou um trabalho sem precedentes na História da Arte, nas próprias paredes de sua casa; conhecidas hoje como “Pinturas Negras“, estas pinturas sombrias e aterrorizantes que habitavam o mundo particular do pintor foram exteriorizadas nas paredes de sua residencia. Pintadas diretamente no reboco com tinta óleo, nenhuma destas cenas teve algum título ou explicação por parte do artista, somente posteriormente é que foram atribuídos títulos e teorias sobre cada obra. Goya não tinham nenhum intensão de expor estas obras, muito menos de retira-las daquele local, somente em 1870 o então proprietário da casa o Barão d’Erlanger – conseguiu que os 14 afrescos fossem transladados para telas, que foram exibidas na Exposição Universal de 1878 e hoje estão no Museu do Prado em Madri.
Estas obras perturbadores e tenebrosas, transmitiram os dias nebulosos que viviam Francisco de Goya e a sociedade espanhola, devastada pela invasão napoleônica e de super potência, dona de inúmeras colônias ultra-marinas se tornou um simples país na Europa, agora governada por um monarca retrógrado: Fernando VII. A surdez e a solidão, trouxe o turbilhão ao pintor espanhol, muito se discute que Goya teria precedido a escola moderna de pintura Expressionista nestas obras.
ANÁLISES DAS OBRAS:
Velhos Tomando Sopa
A Romaria de São Isidoro
Briga com Porretes
Saturno Devorando seu Filho
A obra “Velhos Comendo Sopa” mostra a miséria do ser humano e a morte representada nos rostos aterrorizantes. Nota-se uma extrema pobreza nas duas figuras, dado também ao tratamento pictórico do quadro, isso se deve ao contexto do povo espanhol, arrasado por um invasor “França” e vítima de um Governo Ditatorial que instituiu a cruel “Santa Inquisição Espanhola”. Como um eterno irônico, Goya mostra a ignorância da população que mesmo diante de tamanha desgraça, ainda sorri, como o velho com a colher , à direita.
A Romaria de São Isidoro, ou Procissão a São Isidoro é um retrato claro, da visão crítica a Igreja Católica vigente em sua época, acusado tempos antes pelo Tribunal da Inquisição, Goya tinha uma aversão clara a Igreja e como governava a Europa Ocidental e assim a América Católica. O que seria uma Procissão a São Isidoro? Na visão de Goya ao retratar os fiéis, nota-se a face sombria e até demente das pessoas que seguem o percurso, mal sabem eles que alimentam a ilusão e o próprio Algoz que controlava a Espanha mergulhada em decadência: a Igreja.
“Briga com Porretes” é uma misteriosa cena que representa dois rapazes atolados até os joelhos brigando violentamente, consequentemente até a morte. Não é uma violência explícita, com sangue e corpos dilacerados, mas o tratamento que Goya deu e a maneira como captou a cena, anuncia-se uma tragédia. Alguns estudiosos entenderam esta contenda como uma premonição da Guerra Civil Espanhola.
“Saturno Devorando seu Filho” é a principal pintura das 14 “Pinturas Negras“. A cena grotesca remete a mitologia Grega, sendo Saturno o deus romano do tempo, advindo do deus grego Chronos. O tratamento escuro, a todas as obras remete a uma tradição espanhola e barroca, grandes pintores espanhóis usaram o negro com maestria como El Greco, José de Ribera, Diego Velázquez, Esteban Murillo, Francisco de Zurbarán e outros. Na realidade há uma analogia da cena aterrorizante e bizarra com a vida real. Na mitologia Saturno (Chronos) devora os filhos nascidos de Reia; como deus do tempo, entendesse que o tempo devora, ou acaba com os próprios frutos que fez, ou filhos; o tempo devora o que ele mesmo criou, uma forma poética de dizer que o tempo acaba com tudo.
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Velhos Tomando Sopa |
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A Romaria de São Isidoro |
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Briga com Porretes |
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Saturno Devorando seu Filho |